TREZENTOS E SESSENTA E CINCO DIAS

Trezentos e sessenta e cinco dias . Entra Janeiro , IDEALIZO O SONHO entre estouros de fogos de artifícios e de champanhe. Roupas Brancas e oferendas jogadas no mar. Fevereiro BUSCO A ALEGRIA, no maior bloco do mundo frevando nas ruas do bairro de Säo José e nas ladeiras de Olinda. Em março QUERO A FÉ que vem de uma Nova Jerusalém , muito peixe , muito vinho e malhar Judas nos postes das avenidas escuras das cidades. Abril chega cheia de mentiras , brincadeiras que a infância não apagou , ESPERO A ESPERANÇA de ver o verde que os Índios tanto preservaram , e lembro de Cabral descobrindo o país e Tiradentes sendo enforcado. Chega maio e CONSTRUO A PAZ , nos braços de todas as mães e no encanto das noivas , mas tenho que DESEJAR O AMOR , nas adivinhações de Santo Antonio , São João e São Pedro e que chegou Junho com as quadrilhas , os fogos e as lembranças de que já se passaram seis meses, em tão poucas linhas.
Entra Julho e o tempo é de férias e de festas. VIVENCIO O RESPEITO dos que descansam porque estudaram muito, correram muito , trabalharam muito. Em agosto ALCANÇO O AFETO no abraço forte do pai , esteio da família e sustentação do amor. Chega Setembro trazendo a Independência que Pedro nos deu ao chegar as margens do Ipiranga. SINTO A SERENIDADE e a presença dos raios de sol que chegam preparando o verão. Em outubro REALIZO O EQUILÍBRIO com a força da Padroeira Aparecida e a inocência da Infância. O mês é doce , é mel , é criança. Novembro AGRADEÇO A HARMONIA trazida por Todos os Santos na hora de reencontrar quem já partiu , quem nos deixou a saudade e a dor. Mas , a festa é da nação, da bandeira , da república , da pátria verdadeira. Dezembro tem natal , papai noel , cristo, renovação, amigo secreto , confraternização. FESTEJO A FELICIDADE de Ter vivido mais um ano e me preparo para encontrar Janeiro , de novo.
Trezentos e sessenta e cinco dias , em tão poucas linhas. Me pergunto se a vida é só isso e lembro do recheio. Acordar cedo , trabalhar , voltar para casa , contas a pagar , tão pouco a receber e tanto por fazer que nem dá para perceber.
A vida se guia e está estampada na novela das oito , e nos jornais nus e crus do horário nobre. É a vida que se transforma em Laços de família , batismo, primeira comunhão, casamento e extrema unção. E vamos vendo os cabelos perderem a cor , as rugas invadirem o nosso rosto . passamos da Infância para a Terceira idade , sem perder as baladas da adolescência e as pancadas da vida adulta. Trezentos e sessenta e cinco dias, quarenta, cinqüenta , sessenta, setenta vezes , para tudo terminar na previdência . e tudo isso em tão poucas linhas.

PARA ESCREVER UMA CRÔNICA.

Escrever uma crônica é um desafio pois precisamos procurar as palavras certas , a grafia impecável , as concordâncias e todas as regras gramaticais . E precisamos de um tema. E plagiando um grande poeta , ainda que eu falasse a língua dos anjos, ou a língua dos homens , sem amor , eu não conseguiria falar nada para ninguém. Mas , falar para quem ? Escrever para quem ?
Na comunidade de minha juventude , uma professora de língua portuguesa , pensou que no auge de seu sucesso profissional precisava tirar umas varizes que incomodavam e mexiam com sua auto estima. Uma fatalidade da vida e um choque anafilático a jogaram no coma , na cama e numa vida vegetativa e sem consciência por longos e intermináveis 20 anos. Na hora em que teve que partir atendendo ao chamado do ser supremo ela estava rodeada do carinho , do respeito e do amor dos pais , irmãos, da filha única e dos netos que nem chegou a conhecer. Bem diferente das premissas que levaram uma norte americana nas mesmas condições , a morrer por ordem da justiça.
E se fossemos escolher uma palavra para abrir a crônica , teríamos Estorvo. Pois é isso que nos tornamos nesse processo de vida doloroso , gradativo e diário que passa por escola , trabalho, sacramentos, família , aposentadoria , velhice e previdência.
Faltam palavras que nos lembre o quanto precisamos de Igualdade , fraternidade e Amor.
E o tema da crônica continua perdido nas balas que matam nas guerras do oriente . E nos morros de um país abençoado por Deus , bonito por natureza e que vê seus filhos sendo levados pela morte e vida Severina descrita por João Cabral que mata de morte matada e de morte morrida, que mata de fome na infância e de bala todos os dias. E tem gente com fome , gente que não come , e gente que é fome zero , que vive de vale gás, vale família, vale escola e continua vendo quem realmente precisa de ajuda ; morrer , pois não vale nada.
A palavra da crônica poderia ser então a única que justificaria escrever uma crônica. Mas antes será preciso inventar um idioma novo , porque palavras como Nagasaki e Hiroshima , perdão , paz e tantas mais , já foram vilipendiadas demais.
O Espelho cristalino não reflete mais a imagem e semelhança do criador em suas criaturas , é preciso falar de AMOR e recriar a VIDA.

MUDANÇA DE CICLO

ESSA SEMANA PERCEBI QUE TINHA FECHADO UM CICLO DE MINHA VIDA. E É INTERESSANTE PORQUE VOCE NÃO SABE O PORQUE , MAS PERCEBE A MUDANÇA. E SEM QUERER VOCE MUDA AS ATITUDES E ASSUME NOVAS POSTURAS. RENASCI DAS CINZAS. E NÃO FALO SÓ POR CONTA DA SAÚDE RECONQUISTADA, MAS DA AUTO ESTIMA , DA BUSCA PELOS IDEAIS. FECHEI UM CICLO E ESTOU RECOMEÇANDO. VOU CONTINUAR A LUTA , SEM ESPADAS, PEDRAS , PAUS EM PUNHO. MAS, COM MUITA INTELIGÊNCIA NA CABEÇA E MUITO AMOR NO CORAÇÃO. VOU RESCONQUISTAR OS MEUS ESPAÇOS E OS MEUS AMORES PERDIDOS. VOU CONTINUAR, ATÉ ONDE DEUS ASSIM ME PERMITIR. SEM MEDO DE ERRAR DE NOVO, SEM MARCAS PARA CULTIVAR...VOU ABRIR UM NOVO CICLO , POIS OS BRAÇOS E O CORAÇÃO JÁ ESTÃO ABERTOS.

CANTO DE FEVEREIRO

FERVE , FEVEREIRO
FOLIÕES NA RUA
ANTECIPANDO O REINADO DE MOMO,
REINADO DE ALEGRIA , DE DESEJOS ,
DE AMORES ESCONDIDOS E DESENCONTRADOS,
DE AMORES QUE SE REVELAM.
SOBE E DESCE LADEIRA
ATRÁS DA TROÇA.
TROCA DE PARCEIROS
PORQUE NINGUÉM É DE NINGUÉM.
E SE VAI ACABAR NA QUARTA FEIRA DE CINZAS,
AINDA TEM MUITO PRA ACONTECER.
FERVE , FEVEREIRO,
QUE CHEGOU COM CHUVAS, RAIOS E TROVOADAS
QUE DEIXOU MAIS QUENTE O CAOS URBANO.
SOMBRINHA NA MÃO , A DO FREVO
POIS FERVE FEVEREIRO
E DE NOVO, VOLTA A ESPERANÇA...

ANTONIO NOGUEIRA